AquaNews

Daniela Batista

• AquaRio


1. AquaRio
















Maquete do AquaRio, a ser construído na zona portuária

do Rio de Janeiro. Foto: Divulgação.


No dia 05 de agosto de 2008, o Aquário Marinho da Cidade do Rio de Janeiro — AquaRio — deu entrada em seu projeto arquitetônico a fim de viabilizar os licenciamentos necessários para a realização da obra de construção do empreendimento na zona portuária. Este será o maior Aquário Marinho da América Latina, com 25 mil metros quadrados de área construída, 5,4 milhões de litros de água e 12 mil animais de 400 espécies diferentes para exposição. A parceria científica do AquaRio com o Departamento de Biologia Marinha da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) facilitará a realização de pesquisas biológicas que ajudarão na conservação e no uso sustentável da grande biodiversidade aquática do litoral brasileiro.



Raias da APA do Brasil

APA



















A bióloga Daniela Batista etiquetando uma raia. Foto: Jessica Pinho.



A Área de Proteção Ambiental (APA) do Pau-Brasil possui 9.940 hectares distribuídos entre a Praia de Tucuns (Armação dos Búzios - RJ) e o Canal de Itajuru (Cabo Frio - RJ). A região que abrange o ambiente marinho é muito visitada por mergulhadores, atraídos, entre outros animais, pela beleza das raias. A fauna de elasmobrânquios foi registrada pela primeira vez utilizando rede de espera, num período de um ano e meio. Além de identificar as espécies que ocorrem na região, todos os indivíduos capturados foram marcados, e dados como sexo, tamanho e peso, anotados para um acompanhamento da população local. Um total de 17 espécies foi identificado, das quais cinco são comumente encontradas: Dasyatis hypostigma (raia manteiga), Gymnura altavela (raia borboleta), Myliobatis freminvilli (raia morcego), Narcine brasiliensis (raia elétrica) e Rhinobatos horkelii (cação-viola). Os dados levantados pelos pesquisadores servirão como uma importante ferramenta no planejamento das atividades voltadas para consolidação da APA.




• Novo Parasita em Aquário (por Ana Paula Araújo)


Gnathia1
















Gnathia2















Microfotografias de Gnathia sp., diminuto crustáceo (isópoda) encontrado na água

de um aquário marinho onde houve severa infestação e mortandade de peixes.

Fotos: Ana Paula Araújo.


Um peixe ornamental marinho importado (Pseudochromis bicolor) foi levado ao laboratório para necroscopia e pesquisa de parasitas. O animal chegou morto, embalado em saco plástico, já em autólise e sem história clínica. Ao contato com o médico veterinário requisitante das análises, fomos informados de que o peixe era oriundo de aquário marinho (reef) particular (que continha também rochas, corais e anêmonas ornamentais), e o proprietário ao colocar o peixe recém adquirido no aquário observou vários “parasitas pretos e pequenos” infestarem o seu corpo. Outros peixes adquiridos juntamente também sofreram a infestação no mesmo momento.

 

A análise parasitológica no animal revelou-se negativa, porém o estudo da água que acompanhava o animal mostrou a presença dos parasitas, que provavelmente desprenderam-se do animal quando foi a óbito. Os parasitas encontrados foram identificados como sendo Gnathia sp., isópodas da família Gnathiidae, crustáceos de vida livre, relatados em ambientes marinhos e dulcícolas.

 

Os gnatídeos são parasitas hematófagos, porém apenas nas fases larvares (praniza e zuphea). Na fase adulta não se alimentam. A espécie G. africana pode atuar como vetor de Haemogregarina bigemina.   A intensidade da parasitose pode atingir cerca de 100 larvas por hospedeiro e o volume de sangue ingerido pelas larvas de maiores dimensões é de cerca de 0,07ml. As larvas alojam-se na cavidade gástrica de anêmonas do mar e tunicados e na pele ou brânquias do peixe. As formas adultas vivem em esponjas, tunicados ou poliquetas. A patogenia inclui necrose de tecido epitelial no local de fixação e retardo no crescimento.

 

Segundo a literatura, infestações maciças podem matar pequenos peixes. Neste caso, infelizmente, não foi possível obter informações da patogenia sobre esta espécie de peixe.

 

Essa pesquisa mostrou a ocorrência de gnatídeo em aquário ornamental marinho doméstico e a relação epidemiológica entre peixes e invertebrados aquáticos ornamentais marinhos.

 

Araujo, A.P.; Ishikawa, R.T.; Montano, A.P. & Pérez, A.C.A. (2010) Gnathia sp. em peixe marinho importado Pseudochromis bicolor de Aquário doméstico – relato de caso. Anais do VIII Congresso Paulista de Medicina Veterinária – CONPAVET 2010.




Check list no Amazonas

Bunocephalus











Bunocephalus verrucosus da Reserva Extrativista Catuá-Ipixuna.

Foto: Renildo de Oliveira.


Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) realizaram um levantamento da ictiofauna em pequenos córregos tributários do Rio Solimões na Reserva Extrativista Catuá-Ipixuna. Um total de  78 espécies pertencentes a 24 famílias e oito ordens foi amostrado, na qual Characiformes foi a ordem mais representativa (33 spp.), seguida por Siluriformes (17 spp.), Perciformes (14 spp.), Gymnotiformes (oito spp.), Cyprinodontiformes (três spp.), Synbranchiformes, Beloniformes e Myliobatiformes (uma sp. para cada ordem). As espécies mais abundantes representaram 61,4% dos 1.525 espécimes coletados: Hemigrammus belotii, Microphilypnus amazonicus, Physopyxis ananas, Apistogramma agassizii, Elachocharax pulcher, Apistogramma cf. cruzi, Gladioglanis conquistador e Copella nigrofasciata. Segundo os autores, a riqueza de espécies presente na Reserva Extrativista Catuá-Ipixuna pode ser consideravelmente maior devido à sua grande dimensão e densas redes hidrográficas observadas na região.

Oliveira, R.R.O., Rocha, M.S., Anjos, M.B.,  Zuanon, J. & Py-Daniel, L.H.R. (2009) Fish fauna of small streams of the Catua-Ipixuna Extractive Reserve, State of Amazonas, Brazil. Check list, 5(2): 154-172.




• Mapa dos sistemas de água doce do mundo


A crescente degradação ambiental tem comprometido os ambientes de água doce do planeta. Como iniciativa de conservação, Robin Abell (WWF - Washington) publicou, junto com pesquisadores de diferentes países, um novo mapa que retrata, pela primeira vez, os sistemas de água doce do mundo em regiões biogeográficas. O mapa das ecorregiões foi baseado na distribuição e composição das espécies de peixes que ocorrem nesses ambientes e incorporado nos padrões ecológicos e evolucionários mais amplos. A pesquisa, que abrange praticamente todos os habitats de água doce, serve como uma importante ferramenta para traçar planos estratégicos de conservação a nível regional e global. Dados preliminares já revelam áreas com elevada biodiversidade que passavam despercebidas pelos cientistas e ambientalistas. Embora cubra apenas 0,8% da superfície do planeta, a estimativa é de que os habitats de água doce abriguem mais de 100.000 espécies.  Por exemplo, em cinco anos foram descritas 465 novas espécies de peixes somente para a América do Sul.

Abell, R. et al. (2008) Freshwater Ecoregions of the World: A New Map of Biogeographic Units for Freshwater Biodiversity Conservation. BioScience, 58(5): 403 – 414.



• Revisão do gênero Leptolebias


2. -Leptolebias- leitaoi





























Leptolebiasleitaoi. Esta espécie da Bahia possui uma posição filogenética incerta. Foto: Marcelo Notare.


Uma análise filogenética baseada em caracteres morfológicos indica que Leptolebias Myers, 1952 (família Rivulidae), é um grupo parafilético. Segundo o ictiólogo Wilson Costa, revisor do gênero, Leptolebias é diagnosticado por três sinapomorfias: a nadadeira caudal é mais longa que alta, possui um único neuromasto anterior supra-orbital e uma pigmentação escura que não se estende na porção distal da nadadeira dorsal nos indivíduos machos. Como consequência, este gênero de pequenos peixes anuais que se encontram ameaçados de extinção, provenientes do Brasil, se restringe a um clado bem suportado, que inclui Leptolebias marmoratus (Ladiges, 1934), L. splendens (Myers, 1942), L. opalescens (Myers, 1942) e L. citrinipinnis (Costa, Lacerda & Tanizaki, 1988), a partir da planície costeira do Rio de Janeiro; L. aureoguttatus (Cruz, 1974) (redescrita pelo autor no mesmo trabalho) e L. itanhaensis sp. nov., a partir das planícies do litoral de São Paulo e Paraná, no sul do Brasil. Outras três espécies anteriormente alocadas em LeptolebiasL. minimus (Myers, 1942), L. fractifasciatus (Costa, 1988) e L. cruzi (Costa, 1988) — foram transferidas para Notholebias gen. nov., que é a hipótese de ser um grupo irmão do clado composto por Leptolebias, Campellolebias Vaz-Ferreira & Sierra, 1974, e Cynopoecilus Regan, 1912.

O novo gênero Notholebias é diagnosticado por duas sinapomorfias: um basial estreito e a presença de barras iridescentes sobre a nadadeira caudal nos indivíduos machos. Há também três caracteres interpretados como plesiomórficos que não ocorrem em Leptolebias, Campellolebias ou Cynopoecilus: a presença de dermosfenótico — órgão de contato bem desenvolvido na nadadeira peitoral — e de barras vermelhas na região opercular, ambas em espécimes do sexo masculino.

Uma espécie da Bahia, “Leptolebiasleitaoi, possui uma posição filogenética incerta, pois todo o material bem preservado encontra-se perdido e a espécie pode estar extinta.

Costa, W.J.E.M (2008) Monophyly and taxonomy of the Neotropical seasonal Killfish genus Leptolebias (Teleostei:Aplocheiloidei:Rivulidae), with the description of a new genus. Zoological Journal of the Linnean Society, 153: 147–160.



Segredos da ictiofauna recifal de Fernando de Noronha e do Atol das Rocas


3. Noronha




























Arquipélago de Fernando de Noronha. Foto: João Luiz Gasparini.


Os pesquisadores João Luiz Gasparini e Osmar Luiz Jr. participaram, em agosto passado, de uma expedição científica ao Arquipélago de Fernando de Noronha. Os dezenove dias de expedição resultaram em 42 mergulhos autônomos que somaram muitas horas de observação e pesquisa de um projeto amplo que estuda a fauna de peixes dos recifes nas ilhas oceânicas brasileiras.

Os resultados preliminares coligidos por Gasparini e Osmar e por outros pesquisadores membros da equipe em outras expedições mostram que a fauna do complexo insular Atol das Rocas - Arquipélago de Fernando de Noronha é composta por espécies características da costa brasileira, formas típicas do mar do Caribe e também por espécies endêmicas, isto é, exclusivas dessas ilhas.
Um fato de grande importância foi o encontro de cinco espécies de peixes ainda não descritas, ou seja, que ainda não eram conhecidas pela Ciência e, portanto, não dispunham de nomes científicos.

Outra novidade gratificante foi observar o reaparecimento de algumas espécies que há muito estavam desaparecidas ou eram raras em Noronha. Dentões, badejos, tartarugas, meros e tubarões de grande porte foram vistos com frequência nos mergulhos. Tal fato se deve à eficácia da fiscalização no Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha que, aos poucos, retorna ao seu estado prístino de conservação.

Os demais pesquisadores que integram a equipe de ictólogos envolvidos nesse estudo são: Alasdair Edwards, Alfredo Carvalho Filho, Benjamin Victor, Cristina Sazima, Ivan Sazima, João Paulo Krajewski, Luiz Alves Rocha, Roberta Bonaldo e Sergio Ricardo Floeter.

Conforme fomos comunicados, os autores pretendem publicar um amplo artigo na revista HABITAT, com magníficas fotografias, sobre os resultados dessa expedição científica ao Arquipélago de Fernando de Noronha.



• Dieta de pomacantídeos no Arquipélago de São Pedro e São Paulo


4. H. ciliaris SPeSP


Dani


Foto de cima: Holacanthus ciliaris fotografado no Arquipélago São Pedro e São Paulo. Foto: Aline Aguiar.

Foto de baixo: a pesquisadora Daniela Batista em trabalho de campo sobre a ocorrência e a dieta de pomacantídeos.

Pesquisadores do laboratório de Porifera do Museu Nacional/UFRJ estão investigando a dieta da população de Holacanthus ciliaris (família Pomacanthidae) que vive no isolado Arquipélago de São Pedro e São Paulo (latitude: 0
º55’N). O hábito alimentar do pomacantídeo na região é semelhante ao descrito anteriormente para o Caribe, cuja dieta é muito rica em esponjas. Até o momento, mais de 15 espécies foram identificadas, incluindo novo registro para o local. Alguns fragmentos de algas do gênero Caulerpa também foram encontrados em seus tratos digestivos. Acredita-se que a utilização de esponjas como alimento seja uma estratégia desenvolvida pelos pomacantídeos para evitar a competição nos recifes de coral, já que são poucos os animais que as consomem. Mais uma vez fica registrada a importância desses peixes na estruturação das comunidades bentônicas em áreas tropicais.
 


• Composição da ictiofauna do Arquipélago das Cagarras


5. Stegastes variabilis

























Stegastes variabilis
, habitante das Ilhas Cagarras. Foto: Carlos Augusto Rangel.


A composição de peixes recifais do Arquipélago das Cagarras (cidade do Rio de Janeiro) foi registrada pela primeira vez por pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF). A ictiofauna foi considerada relativamente diversa e impactada, com 99 espécies pertencentes a 39 famílias. Apenas os métodos não-destrutivos foram utilizados no levantamento. A família com maior número de representantes foi a Serranidae (11 spp.), seguida por Labridae (7 spp.), Haemulidae e Pomacentridae (ambos com 6 spp.), Pomacanthidae e Labrisomidae (ambos com 5 spp.) e Bleniidae (4 spp.).

Foram observadas 35 espécies com valor comercial para empresas de aquariofilia, como por exemplo: Hippocampus aff. reidi (Syngnathidae), Acanthurus coeruleus (Acanthuridae), Centropyge aurantonotus (Pomacanthidae), Stegastes variabilis (Pomacentridae), Bodianus rufus (Labridae), Halichoeres dimidiatus (Labridae), Scarus zelindae (Scaridae) e Elacatinus figaro (Gobiidae). Todas as informações obtidas pelos cientistas poderão servir de base para futuros estudos ambientais nas Cagarras.

Rangel, C.A., Chaves, L.C.T & Monteiro-Neto, C. (2007) Baseline assessment of the Reef Fish assemblage from Cagarras Archipelago, Rio de Janeiro, Southeastern, Brazil. Brazilian Journal of Oceanography, 55(1): 7-17.



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