No Rio Sucuri constatam-se imensas reservas de plantas submersas. Foto: Christel Kasselmann.
Bonito — um Paraíso para os Aquaristas
Christel Kasselmann
(HABITAT 81 / 82 / 83 - JANEIRO 2007 A OUTUBRO 2007)
A indicação dessa área interessante de plantas aquáticas e de peixes me foi fornecida há cerca de três anos pela empresa dinamarquesa de cultivo de plantas aquáticas Tropica. Claus Chistensen, presidente dessa empresa, me mostrou fotos subaquáticas maravilhosas de biótopos que se achavam ricamente cobertos de plantas. Eu fiquei tão fascinada que decidi espontaneamente planejar a minha próxima viagem para Bonito. Meio ano mais tarde no final de dezembro havia chegado a hora.
Para adiantar o assunto: os biótopos ao redor de Bonito fazem parte do meio aquático mais fascinante que já tive a oportunidade de ver. E não é um exagero considerá-los reais paraísos de plantas e peixes. Por esse motivo, gostaria de descrever amiúde essa opulência do reino vegetal, discutir análises de água e de solo e dar dicas interessantes a aquariófilos sobre como chegar a Bonito e o que os espera nesta região.
Localização Geográfica
A pequena cidade de Bonito acha-se localizada no estado federal de Mato Grosso do Sul, no sudoeste do Brasil. Ela se encontra ao sul do Pantanal, que é considerado a maior área alagada dos trópicos e subtrópicos da América do Sul. Da cidade de Campo Grande, localizada à nordeste, Bonito pode ser confortavelmente alcançada, de carro, em meio dia através de uma estrada bem asfaltada de 290 quilômetros, passando pelas localidades de Sidrolândia e Esperança. Os arredores de Bonito são bem conhecidos no Brasil como área de proteção ambiental e de lazer e são muito visitados, principalmente por brasileiros. Eles aproveitam os passeios na floresta tropical úmida e se divertem nadando e mergulhando nas águas cristalinas por entre as inúmeras nascentes. Nos biótopos citados, os turistas só podem permanecer em pequenos grupos acompanhados de um guia local. Este fato talvez possa espantar um ou outro aquariófilo, uma vez que as possibilidades de locomoção são limitadas. Contudo, sem tais medidas reguladoras, esses biótopos dos sonhos já teriam sido destruídos.
A visita a essas águas é rigidamente organizada pelos inúmeros escritórios de turismo existentes em Bonito. É necessário fazer uma reserva em tempo hábil para conseguir um lugar em uma excursão. Este fator também poderá afastar uma ou outra pessoa da visita. Também não quero deixar de mencionar que a estadia em Bonito, os custos de hotel e as excursões organizadas não são baratas. Ainda assim, durante a nossa estada, a grande maioria de turistas no local era brasileira, havia poucos estrangeiros. Por outro lado, uma estadia em Bonito promete férias confortáveis, recreativas e cheias de aventura as águas ricas em peixes e plantas o garantem. Para a estadia posso recomendar a Pousada Olho d´Água que mantém uma página na rede (HYPERLINK http://www.poa.tur.br; HYPERLINK mailto:bonito@poa.tur.br).
Em todos os locais a seguir descritos achavam-se disponíveis roupas e equipamentos de mergulho, bem como locais para alimentação. Além destas águas, os escritórios de turismo ainda oferecem outros biótopos os quais devem ser muito ricos em peixes, mas com pouca ou nenhuma incidência de plantas aquáticas. Assim, é possível permanecer sem problema por um tempo mais longo em Bonito sem que isto se torne enfadonho.
Rio Sucuri
No primeiro dia, juntamente com nosso guia Pedro, procuramos pelo Rio Sucuri. As nascentes deste rio brotam a 20 quilômetros à sudoeste de Bonito. Havíamos recebido a autorização de nos juntar a uma excursão no final da manhã. Apesar das inúmeras viagens feitas às mais diversas regiões do Brasil, eu nunca tinha vivenciado uma organização tão perfeita. Na Fazenda São Geraldo, perto da região das nascentes, achavam-se disponíveis centenas de roupas de mergulho e sapatos, para disponibilizar a todos um equipamento adequado. Estes eram realmente necessários para a permanência na água, pois apesar da temperatura relativamente alta da água (24ºC), sente-se frio em pouco tempo com a falta de movimento.
Os mergulhadores (aqui a filha da autora, Anja) passam por uma experiência impressionante ao deixar-se levar sobre as reservas de plantas submersas e cardumes de peixes. Foto: Christel Kasselmann.
Depois que todos haviam encontrado uma roupa adequada, o grupo de oito pessoas foi levado na caçamba de uma pick-up através de picadas estreitas para as proximidades das nascentes do Rio Sucuri. Durante o trajeto, o Sol irradiava de tal forma, que em pouco tempo suávamos por baixo de nossas roupas de mergulho. Nesta ocasião eu me perguntei, por que era necessário que já vestíssemos as roupas de mergulho. A resposta eu mesma descobri mais tarde. O início da excursão não era idêntico ao final, motivo pelo qual não pudemos levar as nossas roupas.
Após uma caminhada de meia hora pela floresta com muitas explicações interessantes sobre plantas e animais raros, chegamos na área das nascentes do Rio Sucuri. No meio da floresta tropical úmida, nos era apresentada uma visão romântica. A água cristalina das nascentes havia formado uma rasa protuberância parecida com um lago e corria lentamente sobre os diversos grupos de plantas, enquanto que os raios de Sol penetravam por entre a densa cobertura vegetal e se refletiam na vegetação existente na água.
Naturalmente, eu tinha uma grande necessidade de entrar nesse biótopo para examinar e fotografar o inventário de plantas, mas isto não era permitido. De uma plataforma de observação e uma ponte que penetrava alguns metros nas águas, era possível obter-se uma boa visão do habitat. Com a ajuda de um binóculo que sempre levo comigo, era facilmente possível reconhecer as plantas apesar da distância e determinar a maioria das espécies. Um grupo de Echinodorus macrophyllus florescia dentro de um pequeno lago e se alternava com campos de Echinodorus bolivianus, Heteranthera zosterifolia, Bacopa australis e Hydrocotyle verticillata. Nas partes escuras do lago tratava-se de grandes travesseiros do musgo Leptodictyum riparium.
Echinodorus macrophyllus no Rio Sucuri apresenta espécimes de coloração verde...
... mas em áreas ensolaradas, com forte correnteza, também mostra exemplares com folhas vermelhas. Fotos: Christel Kasselmann.
Detalhe da folha de Echinodorus macrophyllus. Foto: Christel Kasselmann.
Campos submersos de Echinodorus bolivianus na água cristalina da nascente. Foto: Christel Kasselmann.
Esta foto de Hydrocotyle verticillata mostra uma densa população, em água de forte correnteza, em profundidade de cerca de um metro. Foto: Christel Kasselmann.
Especialmente impressionantes eram os campos floridos de Potamogeton illinoensis sobre os quais éramos levados com os respiradores.
Foto: Christel Kasselmann.
Desta impressionante área de nascentes caminhamos uns poucos minutos até alcançar o rio onde nos aguardava um barco. A viagem de barco levou 10 a 15 minutos, durante a qual já obtivemos uma primeira impressão das enormes reservas de plantas existentes nas águas cristalinas. Então, alcançamos um pequeno cais que serviria de ponto de partida para o nosso mergulho de aproximadamente 30 minutos. Em seguida, recebemos uma instrução de nosso guia Pedro sobre a técnica de nadar com tubo de respiração. Outrossim, fomos instruídos a nos portar de tal forma no rio que as reservas de plantas não sofressem danos e de forma que os peixes não fossem perturbados em seu modo de vida. Fomos solicitados que nos movimentássemos o menos possível dentro da água, deixando-nos levar pela correnteza flutuando na superfície e que não tocássemos o fundo com os pés. Se pensarmos, que em algumas épocas do ano, a cada hora, aqui são conduzidos grupos de pessoas, concluímos que tais precauções constituem uma significativa e efetiva proteção ao meio-ambiente. Cada integrante do grupo recebeu um colete salva-vidas, que não apenas fornecia a segurança, como também provia a propulsão necessária. E então o passeio iniciou com uma velocidade de tirar o fôlego.
Com uma velocidade de correnteza do rio de aproximadamente 1,1 metro/segundo, éramos, em primeira instância, levados por cima de grandes agrupamentos flutuantes de Potamogeton illinoensis, cujas inúmeras inflorescências já haviam se formado sob a superfície da água. Em seguida alternavam pequenas aglomerações de Polygonum hydropiperoides com grandes grupos de Nymphaea gardneriana e Heteranthera zosterifolia. As ninféias cresciam na água a profundidades de um até dois metros, muitas vezes na mais forte correnteza. Os densos feixes só podem ter se reproduzido de modo vegetativo, por ramificações, uma vez que as flores não alcançavam a superfície. Uma reprodução por sementes também é difícil de ser imaginada em virtude da forte correnteza. Contudo, também se viam isoladamente pequenas flores brancas sob o espelho dágua, mas que não atingiam a superfície da água.
Uma planta aquática bastante conhecida na aquarística, Heteranthera zosterifolia, também crescia sob a forte correnteza. Exibia rebentos notadamente curtos e deste modo formava uma densa e baixa almofada vegetal. Apenas na margem do rio, em áreas calmas, observei mudas isoladas que haviam alcançado a superfície e floresciam. Era notório que a forte correnteza impedia que alcançassem a superfície da água, pois brotos mais longos de Heteranthera zosterifolia eram imediatamente arrancados pela correnteza e levados pela água do rio. Possivelmente os peixes também utilizam os rebentos desta planta como alimento mantendo deste modo a planta curta. Eu pude observar diversas vezes como diferentes espécies de peixe beliscavam os brotos.
Apenas na margem do rio e não na forte correnteza no meio do rio, podia se observar isoladamente longos rebentos de Myriophyllum aquaticum, a espécie brasileira mais comum do gênero, que também emergia da superfície. Na luz intensa, esta planta adquiriu uma cor levemente avermelhada. Nadando com um tubo de respiração pelo rio, os pequenos feixes com enormes Pontederia parviflora existentes no centro chamam muita atenção, que também eram dominantes na margem do rio acima do espelho dágua. Com seus pecíolos e folhas fortes, as plantas solitárias estão em condição de resistir bem à forte correnteza.
Impressionantes também eram os campos isolados de Echinodorus bolivianus, que possuíam folhas notadamente largas e longas. Estas plantas lembravam uma forma triplóide da cultura aquarística que é denominada E. quadricostatus e alcança uma altura de aproximadamente 40 centímetros em aquário. No Rio Sucuri, contudo, estas plantas adquiriam tamanhos ainda maiores. Podiam também ser constantemente observados os brotos delicados e escuros de um tipo de Chara, provavelmente Chara rusbyana, um planta cuja manutenção ainda não foi testada em aquário. Impressionantes, no Rio Sucuri, também eram os grupos isolados de Gymnocoronis spilanthoides e Echinodorus macrophyllus. Nunca antes eu havia avistado exemplares tão robustos de E. macrophyllus como neste rio. Mas, dois dias mais tarde, ainda ficaria mais impressionante na Baía Bonita!
Uma espécie desconhecida na aquariofilia é a alga Chara rusbyana encontrada com frequência no rio.
Foto: Christel Kasselmann.
Pott (1999) também cita a existência de Hydrocotyle leucocephala no Rio Sucuri. E realmente podia ser vista em alguns pontos no rio a espécie americana, Hydrocotyle verticillata, o que podia ser claramente constatado através do limbo foliar sem reentrâncias. A espécie brasileira, no entanto, possui uma clara fenda cuneiforme até o centro da lâmina (umbigo), a qual não podia ser constatada nas plantas existentes no rio. A espécie brasileira também podia ser vista com frequência na área ao redor de Bonito, mas quase que exclusivamente fora da água, até como planta da floresta. Ela também é utilizada como planta ornamental neste local. Hydrocotyle verticillata, ao contrário, não é citada na literatura como existindo no Rio Sucuri, motivo pelo qual eu suponho haver um erro de identificação, respectivamente uma troca com H. leucocephala.
Este passeio excitante com tubo de respiração pelas águas do Rio Sucuri durou 30 minutos, mas me pareceu bem mais longo. Talvez porque havia muito a ser visto, as reservas impressionantes de plantas, das quais conhecemos diversas espécies de aquário e a grande quantidade de espécies de peixes (sobre isto falarei mais tarde). Eu gostaria de ter continuado a nadar pelo rio, mas após dois quilômetros fomos pescados. Por um lado eu estava um pouco decepcionada pelo fato da excursão ter terminado, por outro lado feliz e satisfeita com esta experiência fascinante. No entanto, os outros biótopos provaram ser tão ricos em diversidade vegetal e piscícola como o Rio Sucuri.
Eram notáveis as grandes aglomerações de Nymphaea gardneriana que cresciam na correnteza (profundidade de um a dois metros); lá, a espécie havia adquirido uma forte coloração vermelha.
Foto: Christel Kasselmann.
Rio Baía Bonita Das inúmeras ofertas da Pousada Olho dÁgua, que não era apenas o nosso abrigo, mas também onde se planejavam as desejadas excursões, eu havia escolhido como próximo roteiro o Rio Baía Bonita, pois, de acordo com os relatos, este rio prometia ter uma rica incidência de plantas e peixes. Para adiantar, posso afirmar que em nenhum local dos trópicos eu pude ver um biótopo tão fascinante, com uma densidade populacional de diferentes espécies de plantas tão grande, quanto o que existe na região da nascente desse rio.
Chegada em Baía Bonita: na correnteza, diversos peixes, pequenos e grandes, permaneciam na densa cobertura vegetal, dentre os quais Brycon microlepis (piraputanga), Prochilodus lineatus (curimbatá) e cardumes de uma espécie de Serrapinnus. Foto: Christel Kasselmann.
As nascentes do Rio Baía Bonita emanam a cerca de sete quilômetros ao sul da cidade de Bonito, sendo que a viagem de carro até o local perfaz apenas meia hora. Também aqui, tudo estava perfeitamente organizado, de modo que os trajes e equipamentos de mergulho puderam ser rapidamente escolhidos. Após uma caminhada de meia hora através da floresta tropical, chegamos ao local das nascentes. A vista da Baía Bonita era espetacular e fez com que o meu coração batesse nitidamente mais forte.
Os mergulhadores, equipados com snorkel, podiam permanecer por meia hora na Baía Bonita. Foto: Christel Kasselmann.
Cercada por uma floresta
tropical, encontrava-se uma pequena saliência semelhante a
um lago com uma extraordinária quantidade de plantas e muitos
peixes. O Sol refletia seus raios na água cristalina,
deixando antever, já na margem, enormes reservas de Echinodorus e vários peixes grandes. Os espécimes de Echinodorus
esticavam suas inúmeras inflorescências, que também
atravessavam, em parte, a superfície da água. Esta visão era
simplesmente estonteante. Eu não me cansava de admirar. Um
real paraíso para os aquariófilos!
A visão estonteante do mergulhador com os exuberantes campos submersos de Echinodorus macrophyllus...
... que, acima da água, também formavam folhas e inflorescências. Fotos: Christel Kasselmann.
Os mergulhadores, equipados com snorkel, podiam permanecer cerca de meia hora na Baía Bonita. Eu aproveitei o tempo para registrar as impressões fascinantes que tive com a minha câmera digital, para a qual eu havia adquirido um revestimento subaquático (caixa estanque). Apenas nessa excursão com snorkel foram feitas, aproximadamente, 150 fotos; isto porque meu cartão não tinha mais capacidade de armazenamento, senão ainda teria sido um número maior. Espero que as fotos aqui apresentadas espelhem um pouco desse biótopo impressionante.
O local de entrada da Baía Bonita era o seu ponto mais plano, possuindo uma profundidade de quase um metro. As reservas de Echinodorus macrophyllus cresciam em uma água cuja profundidade era de um metro e meio a dois metros. Elas haviam formado folhas submersas gigantescas, sendo que as folhas jovens centrais adquiriram uma tonalidade rosa-avermelhada brilhante em virtude da intensa luz solar. A estrutura completa da planta era firme, até as folhas mais jovens tinham uma rigidez surpreendente, embora a água na baía fosse calma e não pudesse ser constatada uma correnteza explícita.
Espécimes jovens de Echinodorus macrophyllus na margem da baía, apenas com folhas pequenas e ainda sem inflorescências. Foto: Christel Kasselmann.
As ramagens de Echinodorus macrophyllus só faziam frente à correnteza em razão da estrutura coriácea de suas folhas. Foto: Christel Kasselmann.
No centro da baía havia um campo denso de Echinodorus bolivianus entremeado com E. macrophyllus. É fora do comum duas espécies aparentadas constituírem uma biocenose numa área tão restrita, sem que uma delas fosse suprimida de seu nicho ecológico. Talvez isto só tenha sido possível porque ambas as espécies apresentam diferenças marcantes de tamanho e a menor delas cresce apenas como vegetação rasteira da espécie maior, que, por sua vez, deixa passar luz suficiente por entre suas folhas de longos pecíolos, possibilitando, assim, o crescimento da espécie menor.
No centro da baía, os magníficos campos de Echinodorus bolivianus e E. macrophyllus compunham uma biocenose singular de, aproximadamente, dois metros de profundidade. Foto: Christel Kasselmann.
Na baía, os espécimes de Echinodorus bolivianus eram substancialmente maiores que as plantas de aquários por mim conhecidas; mais tarde, eu ainda achei pequenas reservas dessa espécie em fortes correntezas que possuíam grande semelhança com a aparência das plantas aquáticas cultivadas em aquário. Nesse dia, as discussões que eu tivera no passado sobre o posicionamento sistemático de espécies do complexo Echinodorus bolivianus, com amigos do círculo de Echinodorus, não me saíam da cabeça. Desde a visão das plantas no Rio Baía Bonita, eu não tenho mais dúvida de que E. bolivianus é uma espécie fortemente variável, cujo crescimento depende, em larga escala, de fatores do meio ambiente, sendo que nesse rio ainda há a grande dependência da oferta de nutrientes e as condições da correnteza.(*)
(*) Nota do editor: O gênero Echinodorus (família Alismataceae) tem sido relativamente bem estudado. Alguns trabalhos mais recentes baseados em análise molecular foram publicados. Um novo gênero denominado Helanthiumfoi criado para enquadrar o grupo de espécies de pequeno porte do qual Echinodorus bolivianus fazia parte (antes Helanthium era apenas um subgênero de Echinodorus). Assim, Echinodorus bolivianus, E. quadricostatus e E. angustifolius passaram a ser consideradas variações cromossomiais de uma mesma espécie: Helanthium bolivianum. Echinodorus tenellus agora é Helanthium tenellum (Fonte: Kasselmann, 2011).
Kasselmann, C. (2011) Neue Namen für Aquarienpflanzen (I). D. Aqu. u. Terr. Z. (Datz), 64(5): 29-34.
Lehtonen, S. & Myllys, L. (2008) Cladistic analysis of Echinodorus (Alismataceae): Simultaneous analysis of molecular and morphological data. Cladistics, 24: 218-239.
Na Baía Bonita, a espécie de planta claramente dominante era Echinodorus macrophyllus, cujas reservas se alternavam com grandes grupos de Chara rusbyana. A coloração verde-escura da Chara formava um jogo de cores subaquático impressionante junto com os tons verde-claro e avermelhado da planta lanceolada.
Jogo de cores subaquáticas na baía: o verde-escuro de Chara rusbyana alternava com o verde-claro e os tons de vermelho das plantas lanceoladas. Foto: Christel Kasselmann.
Eu poderia ter permanecido lá muito mais que 30 minutos, mas a viagem de snorkel, de um a dois quilômetros pelo rio, estava para ser iniciada e os outros participantes do grupo me pressionavam. Quanto mais perto chegávamos da saída da baía, mais perceptível se tornava a correnteza, que subitamente impeliu todos os mergulhadores para fora da água. Durante esse processo, fomos arrastados por entre tufos de Gymnocoronis spilanthoides de mais de dois metros de altura, que cresciam tanto subaquáticos, na forte correnteza, quanto sobre a superfície da água, junto à margem. As plantas possuíam folhas muito maiores que as que eu havia visto em aquário. Aparentemente, as relações nutricionais e condições de vida são excepcionais para Gymnocoronis spilanthoides!
Os mergulhadores eram levados ao longo de gigantescos aglomerados de Gymnocoronis spilanthoides. Foto: Christel Kasselmann.
Não apenas Gymnocoronis spilanthoides mas também muitos pequenos caracídeos pareciam apreciar a forte correnteza da água. Foto: Christel Kasselmann.
Também eram visíveis grandes agrupamentos da planta Najas guadalupensis às margens da baía, que perto da superfície da água, na luz solar intensa, haviam formado gemas avermelhadas. Continuamos a ser arrastados pela correnteza sobre densos agrupamentos de Potamogeton illinoensis, que só observei com tamanha densidade nesse rio. Entre as plantas e a superfície da água existia somente o espaço suficiente para que eu pudesse deslizar por cima! Eu nunca havia visto antes um estoque tão esplêndido quanto o apresentado por essa planta dominante nessa etapa do rio. O Sol brilhava e causava uma assimilação inimaginável das plantas. Na água, o oxigênio proveniente da fotossíntese borbulhava com tanta abundância em direção à superfície da água, que tínhamos a impressão de que alguém havia derramado grandes quantidades de água mineral dentro do rio.
Uma visão espetacular: um infindável tapete de Potamogeton illinoensis em processo de forte assimilação fotossintética (observe a grande quantidade de bolhas de oxigênio). Foto: Christel Kasselmann.
Após algum tempo, os densos agrupamentos se tornaram menos densos, e foi possível observar uma associação de plantas composta de Potamogeton illinoensis e Echinodorus macrophyllus. As Echinodorus macrophyllus também se achavam muito agrupadas na margem do rio, onde emergiam da água e floresciam. Na forte correnteza, contudo, só foram encontrados exemplares individuais ou pequenos grupos. Neste setor, o rio alcançava cerca de 10 metros de largura. A correnteza era tão intensa, que fomos inevitavelmente arrastados. Teria sido quase impossível fazer frente a ela para se chegar a uma outra parte do rio.
Antes de o Rio Baía Bonita ser absorvido pelo Rio Formosa, pude observar, além das espécies de plantas já citadas, grandes agrupamentos de Myriophyllum, devendo, provavelmente, se tratar do representante brasileiro da espécie, Myriophyllum aquaticum. Fiquei surpreendida pelo fato de que a gema desta espécie também pode apresentar uma forte coloração vermelho-escura, o que provavelmente é causado pela grande incidência da luz solar. Para poder fotografar e não ser levada pela correnteza, fui obrigada a me segurar num tronco que se projetava dentro dágua. Embora as gemas crescessem nessa correnteza, elas se achavam fortemente cobertas por sedimentos. Até aquele momento, eu só conhecia Myriophyllum aquaticum com gemas de coloração meramente esverdeadas, motivo pelo qual, durante semanas, duvidei de que se tratasse efetivamente de Myriophyllum aquaticum, já que a literatura científica (Pott, 1999) cita esta espécie como existindo apenas no Rio Baía Bonita. No verão passado, contudo, pude me convencer do fato de que Myriophyllum aquaticum realmente possui coloração variada, pois com a maior incidência dos raios solares, as plantas em meu lago também adquiriram um tom levemente avermelhado. Imaginamos que, com a luz intensa dos trópicos, a coloração pode ser vermelho-escura.
Eu só encontrei a tradicional planta brasileira Myriophyllum aquaticum em uma forte correnteza, com brotos de coloração vermelho-escura. Foto: Christel Kasselmann.
Na Baía Bonita, eu já havia visto diversos peixes, entre outros, muitos exemplares grandes de Brycon microlepis denominada pelos nativos de piraputanga e Prochilodus lineatus, porém, me concentrei mais nas plantas, uma vez que o tempo era por demais curto, não me permitindo uma observação paralela de plantas e peixes. Durante a viagem de snorkel pelo rio, eu avistei vários peixes pequenos passando por mim, em especial, cardumes de uma espécie de Serrapinnus (provavelmente S. kriegi). Eles não me pareciam estar nenhum pouco assustados, pelo contrário, chegavam bem perto de mim, como se estivessem curiosos com aquele objeto estranho boiando na água.
Cerca de dois quilômetros distantes da Baía Bonita, o rio imerge no Rio Formosa. Neste trecho, os participantes do mergulho foram novamente retirados da água. No total, só foram observadas poucas espécies de plantas no Rio Baía Bonita, como também já havia sido constatado em relação ao Rio Sucuri, porém, aquelas ocorrem em tamanha densidade populacional, como eu jamais havia visto antes. Foi uma experiência subaquática muito especial.
Rio da Prata
O Rio da Prata, também denominado pelos nativos Silver River, nasce ao sul da pequena cidade de Bonito. Dessa vez, teremos que percorrer uma distância razoavelmente longa de uma hora e meia, apesar das condições relativamente boas da estrada. A viagem nos conduz através da cidade de Jardim, localizada a 51 quilômetros a sudoeste e a 25 quilômetros a oeste da nascente do Rio da Prata. Nosso guia Pedro nos acompanha. Ele nos informa que teríamos de contar adicionalmente com um guia local, pois não possui licença referente àquela localidade. Pedro nos esclarece ainda que a cada dois meses os guias têm de participar de um curso extensivo para poder acompanhar grupos. E ele não havia tomado tal providência.
Nas proximidades do Rio da Prata existe uma fazenda que nos forneceu o equipamento de mergulho apropriado e que, após a excursão, cuidou de nosso bem-estar. Nosso grupo já estava registrado para uma turnê de snorkel, a organização foi precisa. Em primeira instância, rodamos por cerca de cinco minutos na carroceria aberta de um carro, em seguida, caminhamos por aproximadamente 45 minutos através de uma floresta tropical. Em alguns lugares menos densos, eu avistei esporadicamente Hydrocotyle leucocephala sobre o solo úmido da floresta. E, subitamente, estávamos diante da nascente do Rio da Prata. É uma pequena baía, na qual, utilizando snorkel, pudemos observar, em alguns locais, as nascentes subterrâneas. Surpreendentemente, ao contrário da Baía Bonita, lá quase não existem plantas, mas uma infinidade de peixes grandes e pequenos, e também algas.
Provavelmente, o crescimento das algas é influenciado pelo ser humano, uma vez que os grupos de pessoas que visitam o local em certos dias deixam, naturalmente, resquícios humanos para trás. Apesar desse crescimento de algas, eu descrevi, mais tarde em meu diário, o local como sendo uma paisagem subaquática magnífica, pois me senti como em um gigantesco aquário. Lá ocorrem muitos peixes de grandes proporções, entre outros, Prochilodus lineatus, denominado curimbatá pelos nativos, e Brycon microlepis, também chamado de piraputanga, e observei ainda muitos caracídeos, provavelmente da espécie Serrapinnus kriegi, em pequenos bandos. Na maioria das vezes, contudo, a correnteza estava muito forte para focar rapidamente os peixes com uma câmera digital. Para isso, teria sido necessário usar uma câmera de reflexo de lente. Assim, infelizmente, só consegui fazer algumas fotos, as quais também mostram espécies de peixes individuais no Rio da Prata. Porém, a água estava tão cristalina e a incidência de raios solares tão alta que pude fotografar sem flash. O que achei surpreendente é que existem cardumes tanto de pequenos caracídeos quanto de grandes predadores, com aproximadamente 50 centímetros de comprimento, como Salminus maxillarus, o saboroso dourado.
Na região da nascente do Rio da Prata, os mergulhadores sentem-se como se estivessem em um gigantesco aquário, no qual circulam cardumes de espécies grandes e pequenas. Foto: Christel Kasselmann.
O famoso dourado (Salminus maxillosus), um predador que fica na forte correnteza esperando sua presa. Foto: Christel Kasselmann.
Daí começou a turnê de snorkel. Saímos da baía e seguimos rio abaixo, ao sabor da correnteza. No início, durante um longo setor do rio, pudemos avistar exclusivamente Heteranthera zosterifolia. Enormes agrupamentos formavam acolchoados, com plantas de três até no máximo 20 centímetros de altura, que cresciam na forte correnteza. Eu pude observar como muitos peixes se alimentam dessas plantas e, assim, mantêm os rebentos curtos. Em um determinado local, pude ver longas hastes na correnteza, como as que conhecemos da aquariofilia. Surpreendentemente, essa planta considerada no aquarismo como necessitando de muita luz também crescia a uma profundidade de 2,5 metros e lá, igualmente, formava grandes acolchoados.
Esses grandes campos de plantas são fantásticos: Heteranthera zosterifolia, até onde o olho humano pode alcançar. Um exemplar de Crenicichla edithae descansa sobre as plantas. Foto: Christel Kasselmann.
Em razão da forte correnteza, Heteranthera zosterifolia forma pequenos acolchoados no rio. Provavelmente, os peixes também aparam os rebentos. Foto: Christel Kasselmann.
Somente após algumas centenas de metros é que pude avistar, além dos grandes grupos de Heteranthera zosterifolia, uma outra espécie de planta que já conhecia do Rio Baía Bonita. Tratava-se de grandes campos de Echinodorus bolivianus, que no Rio da Prata possuíam um crescimento bem menor, de modo que eu não tinha certeza se eram da mesma espécie ou de uma outra menor, i.e., a menor planta lanceolada, Echinodorus tenellus. Como eu não estava autorizada a levar alguns exemplares para exame e determinação, eu confiei nas informações da literatura. Pott (1999) cita apenas Echinodorus bolivianus para o Rio da Prata.
No início da turnê de snorkel, o rio possuía apenas uma largura de cinco a 10 metros e até dois metros de profundidade. Depois de cerca de dois quilômetros, a água do rio passava por cascatas rasas, motivo pelo qual o grupo teve de sair da água e andar por volta de 500 metros pela margem. Em seguida, era visível o mesmo quadro subaquático: quase que exclusivamente acolchoados de Heteranthera zosterifolia, também esporadicamente grandes campos de Echinodorus bolivianus, que por vezes se achavam mesclados de Hydrocotyle verticillata. Foram raras as vezes que avistei populações exclusivas de Hydrocotyle leucocephala a quase um metro de profundidade. Surpreendentemente, não pude observar outras espécies de plantas, como por exemplo, ninféias e Potamogeton, que podiam ser vistas em grandes quantidades nos outros rios. Mas eu nunca havia visto antes reservas tão substanciais de Heteranthera zosterifolia! Parece que esta espécie encontra as condições ideais no Rio da Prata. Foi incrível ainda ter visto um crescimento esporádico de algas entre as plantas Echinodorus bolivianus e Heteranthera zosterifolia na margem, em águas mais calmas. Pude observar tanto algas verdes filamentosas, quanto glomérulos de um tipo de alga semelhante a um pincel que, todavia, não crescia sobre as folhas.
Esporadicamente, pode ser constatado o crescimento de algas no Rio da Prata, provavelmente devido à influência humana. Aqui, algas filamentosas cobrem uma pequena população de Echinodorus bolivianus e Heteranthera zosterifolia. Foto: Christel Kasselmann.
No Rio da Prata, poucas vezes encontrei populações puras de Hydrocotyle verticillata, aqui em profundidade de cerca de um metro. Foto: Christel Kasselmann.
Algumas centenas de metros adiante, após cerca de 90 minutos de turnê de snorkel, os primeiros participantes foram retirados da água e levados em um barco. Essas pessoas estavam muito cansadas ou, provavelmente, haviam visto o suficiente para aquele dia. Quem quisesse e isto eu não precisei dizer duas vezes poderia se deixar levar adiante através da correnteza.
Apenas uma vez eu pude encontrar Isoetes pedersenii vegetando na margem. Esta espécie também crescia submersa na forte correnteza. Foto: Christel Kasselmann.
O rio dispunha de uma largura de 15 a 30 metros e uma profundidade de cerca de dois a quatro metros. Apesar de a água estar levemente turva, ainda foi possível reconhecer os acolchoados de folhas curtas de Heteranthera zosterifolia. Poucos metros antes de eu também ter sido retirada da água, descobri na margem, sob a superfície da água, algumas plantas do gênero Isoetes. Os exemplares de Isoetes cresciam no solo arenoso-rochoso junto com Bacopa australis e Heteranthera zosterifolia em flor. Na forte correnteza, eu ainda consegui me segurar em um galho para fazer algumas fotos. No caso das Isoetes, parecia tratar-se de Isoetes pedersenii, uma espécie que, aliás, não é citada na literatura como ocorrendo no Rio da Prata.
Esta é a aparência de um aquário natural: um campo de Echinodorus bolivianus entremeado por pedras e galhos caídos na água. Na forte correnteza da água, formaram-se plantas com longas folhas. Foto: Christel Kasselmann.
Ceita Coré
Os resultados da análise de solo da região de nascente de Ceita Coré já estão disponíveis e nos fornecem também esclarecimento sobre o tipo de nutrição das plantas nos outros biótopos citados. Assim, para podermos comparar as águas entre si, os dados referentes à região de nascente de Ceita Coré serão aqui apresentados.
Ceita Coré acha-se localizada a 41 quilômetros ao norte de Bonito, na direção da cidade de Bodoquena. Lá se encontra a nascente do Rio Chapeninha, cuja água cristalina forma um lago artificialmente represado. A água flui através do lago em alta velocidade e se une ao Rio Chapena. Nesse lago, eu encontrei grandes estoques de Bacopa australis, que é uma nova planta de aquário, tanto na forma imersa, com muitas flores, quanto na água rasa. A espécie não aparece na forte correnteza das águas abertas, onde cresciam enormes estoques de Echinodorus bolivianus e Chara sp. Os grandes campos submersos de Echinodorus bolivianus se achavam com um crescimento tão magnífico e eram tão impressionantes, que eu imediatamente me perguntei o que estaria causando tal crescimento nesse local. Os resultados da análise da prova do solo são a solução para este enigma. Eles fornecem esclarecimentos conclusivos sobre a nutrição das plantas, os quais eu debaterei a seguir.
Discussões sobre as análises de água e de solo
As análises da água foram feitas em parte no local, em parte no laboratório (análise completa). Os resultados mostram que as espécies constatadas nos quatro biótopos crescem em águas duras, ricas em carbonatos e eletrólitos, bastante incomuns no tocante às condições dos trópicos (a dureza carbonatada é apenas um pouco inferior à dureza total) com altos teores de cálcio e teores variados de magnésio, de modo que podemos falar de águas carbonatadas de cálcio e magnésio. O planalto de Bodoquena, a oeste das nascentes, é composto de rochas calcáreas e, de fato, constata-se grande incidência de rochas carbonatadas na região ao redor de Bonito.
Análise da água dos rios nas cercanias da cidade de Bonito (MS).
n.d.: não detectável.
Todos os valores de pH medidos no local mostram um valor levemente alcalino, o que é incomum em biótopos de plantas tropicais, para os quais normalmente é constatado um valor de pH levemente ácido com água bastante mole (especialmente os ambientes no Brasil). Os teores de dióxido de carbono, notadamente altos em valores de pH levemente alcalinos, influenciam de forma substancial o alto número de espécimes. Observa-se que a retirada da amostra da água de análise do Rio Baía Bonita foi feita ao final da turnê de snorkel, portanto, cerca de dois quilômetros distante da área das nascentes. Deve-se partir do pressuposto de que o teor de dióxido de carbono na Baía Bonita ainda é mais alto do que o valor medido.
Além disso, as análises da água dos quatro rios mostram que as espécies de plantas incidentes crescem em águas pobres em nutrientes (oligotróficas), nas quais não foram encontradas quantidades confiáveis de amônia, fosfato, nitrito e cloreto, o que diferencia substancialmente essas águas daquelas comumente usadas em aquários. Surpreendentemente, os nutrientes vegetais essenciais, potássio e sódio, também não estão presentes ou são encontrados em apenas um corpo dágua, e mesmo assim em concentração muito baixa. Apenas nos rios Sucuri e Baía Bonita, onde o crescimento vegetal foi encontrado em densidade populacional extremamente alta, é que se constata a presença de nitrato e sulfato. No Rio da Prata e na Ceita Coré, contudo, na presença de uma pequena quantidade de espécies de plantas, só é encontrada quantidade muito baixa ou nenhuma de nitrato e sulfato. O valor muito baixo ou não passível de comprovação de DQO (Demanda Química de Oxigênio) mostra claramente que quase não se encontram substâncias húmicas dissolvidas na água. O DQO, bem como a água cristalina, leva a crer que a quantidade de oxigênio na água é alta. No total, a água só é muito pouco carregada de metais pesados.
Ao avaliar os resultados dessa análise, nos perguntamos como essa grande quantidade individual de plantas pode se alimentar em água relativamente pobre de nutrientes (com exceção do dióxido de carbono), uma vez que a presença dos nutrientes principais, fósforo e potássio, não foi comprovada. A resposta a esta questão pode ser dada após a avaliação da análise do solo (feita pela LUFA, em Kassel, Alemanha) de Ceita Coré. Aliás, eu só estive em condições de coletar uma amostra do solo nesse local, perto das plantas na água rasa, uma vez que os outros corpos dágua eram muito fundos. Embora seja fundamentalmente problemático transferir resultados de análises a outros ambientes, é possível, no tocante a esses rios, partir-se do pressuposto de que, em virtude de sua localização geográfica já que nascem todos a leste de Bodoquena não apenas a sua água apresenta uma estrutura muito similar, mas também o solo na região completa de Bonito possui características idênticas (vgl. Pott 1999).
Análise de uma amostra de solo de Ceita Coré. Aparentemente, o solo exerce papel preponderante na nutrição balanceada e muito favorável das plantas e forma um enorme depósito de nutrientes. É efetivamente assim que o solo nas localidades, em virtude da correnteza da água, só está coberto por areia em sua superfície. Sob essa superfície encontra-se um lodo marrom escuro, com pouca incidência de areia, como pode ser demonstrado pela análise. As partes compostas por sedimentos e lodo no conjunto são muito altas (85%), como eu pude constatar poucas vezes em biótopos nos trópicos (p.ex. solo de Echinodorus). De acordo com definições pedológicas, trata-se de um sedimento com baixo teor de lama. Paralelamente, a parte correspondente ao humo, com 2% (leve até moderadamente humosa), é suficiente para a alimentação das plantas com carbono, o que indica a coloração escura do solo.
Apesar do valor de pH ser levemente alcalino, é indubitável que os nutrientes se achem disponíveis em quantidade suficiente e que as plantas retirem os componentes essenciais do solo. Só assim se explica o crescimento fantástico das plantas no meio subaquático. Além disso, existem os altos teores de dióxido de carbono das águas que dão suporte ao crescimento. É incompreensível para mim como as plantas se alimentam de forma suficiente do nutriente essencial, potássio, pois este não pôde ser detectado na água e só está contido no solo em uma concentração muito baixa. O suprimento de potássio no total, portanto, é classificado como ruim. Por outro lado, o magnésio acha-se disponível em grandes quantidades e o fósforo, em uma concentração relativamente grande.
Os microelementos essenciais, manganês e ferro, estão disponíveis em concentração extremamente baixa, mas, em virtude das baixas quantidades de zinco e cobre (antagonismo iônico), acha-se garantido um suprimento satisfatório das plantas no tocante a esses nutrientes e seu transporte na planta. Infelizmente, em função dos altos custos da análise, não pôde ser analisada a capacidade de troca, que é uma medida referente ao suprimento imediato de nutrientes às plantas.
No geral, foi possível notar nos quatro corpos dágua uma densidade populacional muito alta das espécies citadas de plantas aquáticas, contudo, o número de espécies era reduzido. Em parte porque, em grandes extensões, algumas espécies apareciam como única vegetação. Aparentemente, as espécies de plantas disseminadas nesses corpos dágua e adequadas às suas condições nutricionais encontram condições ótimas, pois nunca pude constatar exemplares tão fortes em um biótopo tropical.
Temperatura e influências sazonais
De acordo com as informações do nosso guia Pedro, a temperatura da água (24°C) não se altera muito no decorrer do ano. Isto se deve ao fato de que, na região de Bonito, as estações do ano não são muito distintas. Na estação fria, que vai de maio a agosto, as temperaturas médias em Campo Grande são de aproximadamente 4°C abaixo das temperaturas observadas na estação quente, que vai de setembro a abril.
O quão fortemente o nível de água varia no decorrer do ano, eu não posso precisar. Contudo, eu presumo que embora a quantidade de precipitação durante a época quente, em dezembro e janeiro, nessa região, seja muito mais alta que a do inverno brasileiro, o nível de água não esteja sujeito a grandes oscilações. Nas espécies de plantas existentes, e.g. Potamogeton illinoensis, foi possível observar que o nível dágua só poderia se situar meio metro mais baixo. As nascentes, com certeza, nunca secam, o que pode ser constatado através das plantas dágua genuínas (ninféias, Potamogeton, Chara). As plantas, portanto, vivem nesses rios em condições de vida razoavelmente homogêneas, as quais também sustentam um crescimento consistente.
Tradução: Frauke Allmenroeder.
Agradecimentos
Agradeço a Claus Christensen, da empresa dinamarquesa de cultivo de plantas aquáticas Tropica, pela grande quantidade de informações sobre Bonito, bem como pela cessão de literatura, o que me foi muito útil durante os preparativos para a viagem. Sou muito grata a Günther Ritter e Katharina Meyer, da Firma Tetra, pelas análises de minhas amostras de água. E, ainda, a Rainer Stawikowski e Hans-Georg Evers, que me auxiliaram na identificação dos peixes.
Bibliografia
Kasselmann, C. (2004) Bacopa australis. Natürliche Standorte in Südbrasilien.D. Aqu. u. Terr. Z. (Datz), 57(3): 22-25.
Pott, A. (1999) Nos Jardins submersos da Bodoquena. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Pott, V.J. & Pott, A. (1997) Checklist das Macrófitas aquáticas do Pantanal, Brasil. Acta. Bot. Bras., 11(2): 215-227.
& . (2000) Plantas Aquáticas do Pantanal. 404 p. Brasília.
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