Nannostomus vermelho-coral, um peixe-lápis do Peru, recentemente descoberto
Stanley H. Weitzman & Marilyn Weitzman
(HABITAT 73 - ABRIL 2003)
Existem, até onde se sabe, 16
espécies de peixes-lápis ou, como são mais conhecidos no Brasil, torpedinhos e
bengalinhas, do gênero Nannostomus (família Lebiasinidae), das coleções
de água doce da América do Sul. De tempos em tempos, muitas dessas espécies
ficam disponíveis para o meio aquarístico. As mais conhecidas dos aquaristas
são: Nannostomus beckfordi, Nannostomus eques, Nannostomus
trifasciatus e Nannostomus marginatus.
Há
cerca de dois anos, uma linda nova espécie deste gênero, de colorido vermelho,
relacionada com Nannostomus marginatus foi descoberta
no Rio Nanay, um tributário peruano do Rio Amazonas, não muito distante da
cidade de Iquitos, sendo logo exportada como peixe de aquário para alguns
países (Japão, Alemanha e Estados Unidos). Esta espécie recebeu o nome
científico Nannostomus marginatus mortenthaleri
Paepke e Arendt (2001). Apesar desses autores terem descrito o peixe como uma
subespécie, eles agora concordam conosco que poderia ser reconhecida como
espécie — Nannostomus mortenthaleri. O nome específico
homenageia Martin Mortenthaler, do Aquarium Rio Momon, em Iquitos, Peru. Ele
foi o primeiro a coletar e exportar esta nova espécie.
Weitzman,
Melgar & Weitzman (2001), trataram das várias formas geográficas de cores
de Nannostomus marginatus e introduziram este
novo peixe para o conhecimento dos aquaristas dos Estados Unidos. Weitzman
& Weitzman (2002), discutiram extensivamente sobre sua reprodução e
cuidados, e lhe deram o nome vulgar em inglês de coral red pencilfish.
Na Inglaterra tornou-se conhecido como red pencilfish
e na Alemanha, purpurziersalmer.
Nannostomusmarginatus Eigenmann, 1909, ocorre no Brasil. Foto: Marcelo Notare.
Algumas
vezes, espécimes recentemente importados desta nova espécie de Nannostomus
sofrem grande mortandade, aparentemente em razão de uma brusca mudança, de água
mole, algo ácida, para água dura, algo alcalina. Entretanto, verificamos que a
espécie é muito robusta, durável e fácil de se reproduzir, quando mantida nas
seguintes condições: temperatura 24° a 26°C; pH 6,0-6,5; dureza total 20-40
partes por milhão (ppm). Usamos água de filtro de osmose reversa para manter e
reproduzir Nannostomus mortenthaleri. Semanalmente,
trocamos de 10 a 20 por cento da água do aquário por outro tanto de água fresca
e bem aerada, também de osmose reversa (água de chuva coletada em áreas sem
poluição do ar pode ser um excelente substituto para água de osmose reversa).
Nannostomus mortenthaleri no aquário dos autores. Foto: Stanley H. Weitzman.
Os
parâmetros acima mencionados mantêm os peixes adultos em ótimas condições de
cor e reprodução. Temos criado espécimes juvenis junto com adultos em aquários
com cerca de 75% de seu volume densamente plantado. Alimentamos nossos peixes
com uma combinação de náuplios de artêmia e ração em flocos, e isto tem sido
suficiente para levá-los ao estado de reprodução. Com relação ao intenso
colorido vermelho dos machos, a coisa mais importante é aguardar que se tornem
plenamente maduros e sexualmente ativos. Até mesmo espécimes jovens podem
exibir algum interesse em se reproduzir, ainda que não apresentem o máximo de
suas cores. Então, quando se vê exemplares desta espécie em uma loja de aquários,
eles podem estar relativamente descoloridos e mais ou menos rosados — ainda
assim, são uma atrativa espécie de Nannostomus.
Sugerimos que tais exemplares sejam comprados, pois, com o tempo, e sob
condições adequadas, atingirão o máximo de suas cores. Achamos ainda que estas
cores tornam-se mais intensas sob luz difusa (pouca luz). Comparada com muitas
populações de Nannostomus marginatus que temos visto e
mantido, Nannostomus mortenthaleri atinge comprimento
maior (35 milímetros de comprimento total) e possui corpo mais robusto.
Em tempo: Surge mais um Nannostomus Vermelho do Peru
O novíssimo e ainda mais recente Nannostomus vermelho do Peru. Foto: Dieter Bork.
Nos últimos meses, outro novo Nannostomus
vermelho relacionado com N. marginatus e N.
mortenthaleri está sendo exportado de Iquitos, Peru,
e já se incorporou ao mercado aquarístico. Apesar desta presumível nova espécie
ser estreitamente relacionada com Nannostomus mortenthaleri,
seu padrão de colorido difere bastante, aponto de se poder considerá-la como espécie distinta. Eu ainda não
estudei mais profundamente espécimes preservados para determinar se esta
variante se confirmaria como espécie nova, mas seu padrão de colorido é
bastante distinto, então ela realmente poderia ser uma nova espécie. Por
exemplo, observando a nadadeira dorsal, constata-se que este novo peixe tem o
colorido vermelho na sua base, ao invés de distalmente e acima com uma mácula
branca, como em N. mortenthaleri. Também, na nadadeira
anal do macho,o vermelho não se estende para a sua borda distal como ocorre em N.
mortenthaleri. A mesma diferença no padrão de
colorido ocorre na nadadeira pélvica. Outra diferença verifica-se logo acima da
faixa mediana escura na cabeça atrás do olho, e no corpo, logo atrás da
cobertura branquial. Na foto deste artigo, essas áreas aparecem como brancas,
mas em meus espécimes vivos elas são de um profundo dourado. Ainda, em machos
deste novo Nannostomus vermelho, a estreita faixa
azul-negra que percorre longitudinalmente o corpo, estende-se através do mesmo
até o lobo inferior da nadadeira caudal, enquanto que em N. mortenthaleri
tal faixa tende a parar antes de se estender sobre a nadadeira caudal. As áreas
brancas mostradas na fotografia — na cabeça abaixo dos olhos e ao redor da base
da nadadeira peitoral — são, em meus espécimes vivos, mais douradas do que brancas.
Os meus espécimes estão sendo mantidos em água mole (dureza total 10ppm)
e levemente ácida (pH 5,5-6,5), com temperatura de 25°C. Eles mostram
comportamento muito ativo uns com outros, tal como meus espécimes de Nannostomus
mortenthaleri, quando em atividade reprodutiva.
A precisa localidade de origem deste novo Nannostomus
vermelho do Peru permanece desconhecida para mim. Tem sido dito que a única
pessoa que coletou este peixe, fornecendo espécimes para exportadores de
Iquitos, nada informou sobre onde o mesmo foi coletado.
A última notícia sobre este peixe que eu li e ouvi dizer, é que ele
seria de uma área em torno de Tingo Maria que se situa na porção superior do
Rio Huallaga, província de Huanuco, no Peru. Então, tal localidade seria
realmente muito distante da localidade típica de Nannostomus mortenthaleri.
Dieter Bork publicou um artigo sobre este peixe na revista Das Aquarium
(novembro de 2002, número 401), mas eu não vi uma cópia deste artigo até o
presente momento. Dieter referiu-se a Tingo Maria como área de coleta. Até
certo ponto eu poderia confirmar isso, porque há poucas semanas atrás Marilyn
Weitzman estava conversando com exportadores de Iquitos, no Peru, e notou que
eles estão trazendo coleções da área do Rio Huallaga, mas não obteve qualquer
informação específica sobre a fonte deste novo Nannostomus vermelho.
— Stanley H. Weitzman
Tradução: Marcelo Notare.
Referências Bibliográficas
Paepke, H.J.
& Arendt, K. (2001) Nannostomus marginatus mortenthaleri
new subspec. from Peru (Teleostei: Lebiasinidae). Verhandlungen der Gesellshaft
für Ichthyologie. Band 2: 143-154.
Weitzman, S.H.
& Weitzman, M. (2002) Breeding coral red pencilfish, Nannostomus
sp. and other pencilfishes. Tropical Fish Hobbyist, 50(6): 76-95.
Weitzman, S.H.,
Melgar, J. & Weitzman, M. (2001) The geographical color forms of the dwarf
pencilfish, Nannostomus marginatus and a related coral
red form. Tropical Fish Hobbyist, 49(9): 74-85.
CONFIRA OS NOVOS ARTIGOS E TAMBÉM OS MAIS ANTIGOS AGORA COM MUITAS FOTOS