Nesta reportagem, o Ictiólogo Gerald Allen mostra como foi a sua expedição em busca de peixes raros de água doce, nas ilhas remotas de Papua Nova Guiné. Um show de Imagens e muitas descobertas.
Eu não hesitei em aceitar o convite para mais uma visita a Nova Guiné, feito por Dan Polhemus, um especialista em insetos aquáticos do Smithsonian Institution, em Washington, D.C. (EUA). Dan é um bom amigo que divide comigo a paixão por explorações na Nova Guiné. Nós já participamos de algumas grandes viagens, dentre elas, a expedição à Ilha Biak, a região de Timika, os rios Mamberano e Wapoga, e as ilhas Raja Ampat. O entusiasmo de Dan é contagioso, e o seu cuidado meticuloso em cada detalhe garante sempre uma viagem incrivelmente bem organizada.
Localização de Papua Nova Guiné. Desenho: Marcelo Notare.
A viagem a Papua Nova Guiné tinha como novidade a utilização de um barco especial que alcança áreas de habitats de água doce nunca explorados da província de Milne Bay. Dan contratou o Marlin, uma pequena embarcação, mas muito confortável, ancorado em Alotau. Eu já tinha trabalhado neste barco anteriormente durante a expedição Conservation International de corais, e conheci o capitão Wayne Thompson que demonstrou ser um enérgico e competente marinheiro. E como um bônus extra, trouxe sua esposa Lee, que além de ótima companheira de barco, era uma excelente cozinheira. Este foi o grande diferencial nesta rotineira expedição de coleta na Nova Guiné normalmente dormindo em tendas e sacos de dormir molhados com mofo e comendo ração de sobrevivência. Num vívido contraste, dormíamos no barco, no conforto do ar condicionado e brindados com lautos jantares, complementados por vinhos finíssimos, sorvetes e cheesecake. Por que eu não pensei nisso antes?
O pequeno barco Marlin, usado pela equipe de pesquisadores.
Os entomologistas da equipe, pai e filho, John e Dan Polhemus.
O autor fotografando peixes a bordo do Marlin.
Fotos: Gerald Allen et al.
Nosso objetivo principal era percorrer ilhas ainda não exploradas, vastamente espalhadas na província de Milne Bay. As principais eram Dentrecastaux, Tagula, Rossel e Misima, todas ilhas montanhosas com mananciais de água doce significativos. O principal aspecto dessa expedição era que tais ilhas nunca tinham sido exploradas. Seria então uma exploração biológica no seu mais puro senso!
Vila Bwagabwaga, costa sul de Misima e jovens meninas de Misima.
Fotos: Gerald Allen.
Chegamos em Alotau no meio de agosto do ano passado e passamos os primeiros dois dias comprando mantimentos e organizando toda a tralha. Dan estava acompanhado de seu pai, John Polhemus, a outra metade dessa equipe entomológica tão famosa. Também tivemos a sorte de recrutar os serviços de David Mitchell e Bena Seta, da sede de Milne Bay do Conservation International. A familiaridade com a região e o excelente relacionamento com a comunidade local provaram ser de inestimável importância ao longo da jornada.
Embarcando no avião, de Woodlark para Alotau. Foto: Gerald Allen.
Planejamos pegar o vôo semanal para Misima onde embarcaríamos no Marlin para as expedições em Tagula e Rossel. Até lá, pretendíamos gastar quatro-cinco dias em Fergusson e Goodenough Islands no Dentrecasteaux Group. Para esse fim, Dan contratou o Jean Luc, um barco de carga de 14 metros de comprimento, que não era exatamente um Queen Elizabeth de conforto mas que certamente cumpriu a sua missão. Tipo assim: dormíamos todos numa só cabine e cozinhávamos num fogãozinho de uma boca naquela pequena galera. E mais, o barquinho tinha uma águia Gurney como mascote. A jornada para Fergusson levou cerca de doze horas, incluindo uma parada não agendada na Ilha de Dobu para uma inesperada visita com amigos da tripulação.
Acima, o barco Jean Luc, lar da equipe na Ilha Fergusson. Abaixo, a águia mascote a bordo do mesmo barco. Fotos: Gerald Allen.
Uma vez em Fergusson, rapidamente estabelecemos uma rotina de desembarcar todas as manhãs para coletar ao longo dos rios, e retornar logo antes de escurecer. Embora Dan, John e eu trabalhássemos independentemente, mantínhamos contato constante pelo radio.
A maior parte dos rios tinha uma boa visibilidade, sendo possível observar todas as espécies locais em, no máximo, 40 minutos, usando máscara e snorkel. Peixes facilmente identificáveis como Snappers, Grunters e Flagtails, eram listados com base na observação visual. A maior parte da fauna do fundo consistia de pequenos gobioides que eram capturados com um par de puçás, e outros tipos de rede. Usávamos também uma tarrafa de puxar individual a fim de capturar Gudgeons (e.g. Hypseleotris) ao longo dos bancos formados pela folhagem.
A fauna dos peixes insulares da Província de Milne Bay é similar à das áreas costeiras do norte da Nova Guiné, especialmente das ilhas em alto mar, como Yapen, Biak e Raja Ampats. Tipicamente, cada reduto era habitado por cinco a 15 espécies. Os maiores e mais numerosos nadadores de meia profundidade eram Flagtails (Kuhliidae), Mullets (Mugilidae), e Grunters (Terapontidae), e uma maior diversidade de moradores do fundo, que consistia principalmente de pequenos gobioides (Gobiidae, Rhyacichthyidae e Eleotridae). Gobioides e enguias de água doce (Anguilla) são os únicos peixes capazes de penetrar grandes cachoeiras e cascatas torrenciais. Esses rápidos nadadores de correntes são dominantemente góbios pertencentes à subfamília Sicydiinae. Suas nadadeiras pélvicas são modificadas de forma a criar um mecanismo de sugar eficiente a ponto de aderir superfícies rochosas suaves. Esses góbios continuam escassamente documentados, e coletas adicionais, particularmente em ilhas de alto-mar ao redor da Nova Guiné, Ilhas Solomon, Vanuatu, Nova Caledonia e Fiji devem adicionar novas espécies. Os gêneros Lentipes, Stiphodon, Sicyopus, e Sicyopterus estão demonstrando ser um campo especialmente fértil para novas descobertas. Os coloridos integrantes de Lentipes são tremendos escaladores, a despeito de seu tamanho minúsculo. Lentipes concolor, do Havaí, foi recentemente descoberto ao alto de Hiilawe Falls, que tem uma das maiores quedas dágua do mundo, com aproximadamente 300 metros de altura.
Lentipes sp., a foto mostra um exemplar macho dessa nova espécie. Foto: Gerald Allen.
Sicyopterus logocephalus, macho, 60mm, Ilha Fergusson. Foto: Gerald Allen.
Depois de uns três dias coletando em Fergusson, viajamos para Goodenough, conhecida como a mais alta ilha do mundo (até 2.566 metros) em relação ao seu tamanho (30 quilômetros de diâmetro). Isso nos proporcionou uma grande oportunidade de obter amostras da fauna aquática em grandes altitudes. Depois de conseguirmos um dos únicos veículos disponíveis (um trator), rodamos pelo centro político de Bolubolu ate o pé da montanha. A estrada se deteriorava a medida que subíamos, até que abandonamos o veículo e seguimos caminhando em uma trilha bastante movimentada por uma curiosa multidão de nativos.
Transporte em Goodenough. Foto: Gerald Allen.
Era um dia lindo, com céu azul transparente e belas sombras das verdejantes montanhas. Depois de uma breve parada na cenográfica Kalauma Village, empoleirada a uma altitude de 400 metros, vislumbramos o Rio Tuabeda, ao fundo de uma profunda ravina. Na verdade, já ouvíamos o rugir da correnteza antes mesmo de enxergá-la. Eu estava surpreso com a velocidade da água, o que diminuia as minhas expectativas de coletar algo significante. Felizmente, foi uma falsa impressão. Mais uma vez, eu grosseiramente subestimei a incrível capacidade de escalar dos pequeninos góbios.
Em poucos segundos de mergulho com máscara e snorkel, eu literalmente dei de cara com o tesouro. Uma incrivelmente linda e obviamente nova espécie de góbio do gênero Lentipes estava aninhada numa rocha a menos de um metro de distância. Numa descarga de adrenalina, eu vagarosamente trouxe duas redes de mão a uma posição favorável e então as deslizei na água. Após um momento de incerteza, já na superfície, pude ver meu prêmio reluzente no fundo da rede sucesso! Uma outra hora para capturar mais dois exemplares da espécie, todos machos, assim como a segunda espécie de Lentipes e uma nova espécie de Mogurnda. Embora não reconhecesse de imediato a segunda espécie de Lentipes, esta calhou de ser L. multiradiatus, que eu já havia anteriormente descrito como sendo uma nova espécie oriunda de Irian Jaya, com base num único espécime.
No retorno a Bolubolu, paramos num riacho para nos reabastecer de água, catar algumas pedras e cascalho para uma sessão de fotos à noite. De volta à hospedaria no centro político, transformei uma mesa de cozinha em estúdio fotográfico e trabalhei até tarde da noite. A combinação de góbios sicidiíneos e um pequeno aquário de foto é garantia de máxima frustração. Os peixes-modelo quase nunca cooperam, exceto quando menos se espera (no meio de um bocejo depois de esperar horas para que ele se aproxime e você acabou de botar a câmera na mesa). Felizmente, John conseguiu localizar as três últimas cervejas no bar local, o que aliviou em muito o meu penar.
Alguns dias depois, voamos de Alotau para Misima, um lindo point montanhoso no Mar Solomon. Ao sobrevoar o local, avistamos o Marlin ancorado num lago calmo perto do aeroporto. Assim que embarcamos, Lee nos preparou um lanche com bolinhos deliciosos. Era só uma pequena amostra do que estava por vir.
Na manhã seguinte, chegamos a Tagula, a maior ilha do Arquipélago de Louisiade. Estudamos o mapa e encontramos um rio que poderíamos acessar vindo pelo mar. Era perto de um pequeno vilarejo onde rapidamente conhecemos seus habitantes e obtivemos sua permissão para coletar. Mais tarde, pegamos o bote e seguimos rio acima entre densos manguezais. Menos de um quilômetro depois, o rio ficou raso demais para navegar. A esta altura já ouvíamos o inconfundível rugir da cachoeira à frente. O estuário do rio acabou abruptamente numa queda de 25 metros de altura. Abaixo da queda dágua, encontramos uma outra comunidade estuarina típica que incluia Garfishes, Glassfishes, Cardinalfishes, Snappers, Archerfishes, Scats e baiacus. No entanto, estávamos bem mais interessados nas possibilidades que habitavam a parte alta da cachoeira, que por sua vez formava uma divisão natural que efetivamente filtrava todos os peixes, exceto os góbios sicidiíneos.
Coleta em Tagula. Foto: Gerald Allen.
Parte da equipe em atividade de coleta. Foto: Gerald Allen.
Durante a noite, as chuvas reduziram bastante a visibilidade do rio, eliminando a possibilidade do nosso já tradicional uso do método de snorkel. Perguntei ao líder do vilarejo, que nos acompanhava, se poderíamos usar uma quantidade pequena de rotenona (um coletor químico de peixes) para capturar os peixes que não conseguíamos ver. Nossos esforços não foram tão recompensados, somente umas poucas espécies apareceram e como se previa, eram todos góbios. A descoberta mais valiosa foi um potencial novo Sicyopterus, caracterizado por uma coloração algo sombreada.
Enquanto nos preparávamos para descer pelo lado da cachoeira, um dos nativos apontou para o estuário, excitadíssimo. Um crocodilo enorme de uns três metros cochilava tranquilamente na borda do rio com alguns peixinhos nadando em volta. E aquele era exatamente o lugar onde antes caminhamos dentro dágua sem saber do perigo que corríamos. Mais tarde, enquanto Dan, no bote, retornava ao Marlin, avistou um crocodilo ainda maior de, pelo menos, quatro metros e meio de comprimento. Com certeza, isso nos fez ser muito mais cuidadosos em nossas futuras aventuras nos manguezais.
A Ilha Rossel foi nossa última escala nas Lousiades. Ao contrário das condições de seca que enfrentamos até aqui, os picos de Rossel nos cobriam com mantas de nuvens baixas pontuadas de torrentes de chuvas. As folhagens extremamente encharcadas em clima cinzento davam a impressão de estarmos numa autêntica atmosfera de Jurassic Park. Ancoramos numa enseada para nos abrigar perto de uma floresta pantanosa, o que foi muito oportuno para explorar o habitat que estávamos por conhecer.
Brejo lamacento (Ilha Rossel) onde foram encontrados gobiídeos como Mugilogobius rivulus.
Foto: Gerald Allen.
A floresta pantanosa forneceu uma excelente coleta de góbios, incluindo uma espécie de Mugilogobius que foi achada quase que por acidente. Impulsivamente, enfiei o puçá na fundo de lama, meio sem esperar pegar nada. Para meu espanto, trouxe um góbio todo retorcidinho. Nos 30 minutos seguintes, capturei outros 20 espécimes no habitat mais improvável: um pântano lamacento com pequenas poças de água parada. Helen Larson, uma especialista em góbios do Northern Territory Museum, já havia identificado como Mugilobius rivulus, uma espécie oriunda de Darwin, Austrália, mas desconhecida na Nova Guiné.
Voltamos a Misima para os últimos dois dias de expedição. No primeiro dia, fizemos um tour relâmpago pela costa norte da ilha, que é ligada à cidade principal por uma estrada. Jeremy, o administrador do armazém local, nos forneceu o seu carro assim como os seus préstimos de motorista por um precinho lá dele. Isso nos permitiu explorar uma quantidade de rios habitados por góbios. Mas, nada de extraordinário. Na manha seguinte, Wayne esquentou ao motores do Marlin e aí sim vislumbramos a espetacular costa sul de Misima (ver foto de abertura). Maravilhamo-nos com a sucessão de paisagens de tirar o fôlego, de montanhas enormes que mergulhavam de forma dramática e bela sobre o Mar Solomon.
Finalmente, aportamos numa pequena enseada próxima ao vilarejo de Bwagabwaga. O cenário tinha todos os ingredientes de uma arquetípica ilha dos mares do sul, cabanas de bambu com telhado de folhas, palmeiras que dançavam ondulantemente, corais às margens da praia e montanhas cheias de floresta com cachoeiras que despencavam sobre lagos paradisíacos. A despeito da enorme tentação de nunca mais sair daquele sonho de lugar, nosso principal objetivo era escalar as montanhas o mais alto possível e capturar amostras de peixes e de insetos aquáticos. Dan e eu recrutamos alguns ajudantes e prontamente começamos a subir a trilha atrás do vilarejo. Duas horas depois, já estávamos a mais ou menos a 400 metros de altitude, onde havia um riacho que descia pela montanha numa série de pequenas cascatas e cachoeirinhas. Bivacamos em frente a uma piscina de dois metros de profundidade, na base da queda dágua de uns 10 metros de altura. Tinha um belo sortimento de góbios sicidiíneos, incluindo Lentipes multiradiatus que portava lindas marcas vermelhas no lábio superior e na base da nadadeira peitoral. Passei bem umas duas horas pegando góbios, mas fui vencido finalmente pela temperatura congelante da água, ainda que estivesse com roupa de mergulho.
Lentipes multiradiatus, macho com mácula na nadadeira dorsal, 30mm, Ilha Goodenough. Foto: Gerald Allen.
Lentipes multiradiatus, macho vermelho, 25mm, Misina. Foto: Gerald Allen. Nossa viagem a bordo do Marlin provou ser tão bem sucedida que nos comprometemos a voltar alguns meses mais tarde e recomeçar tudo de novo. Desta vez, visitaríamos a Ilha Woodlark, e tentaríamos subir mais alto em Fergusson e Normanby no Dentrecastaux Group. Dan fez, como sempre, sua meticulosa preparação e novamente nos encontramos na segunda metade de janeiro de 2003. John voou de sua casa em Denver, Colorado, e Todd Stevenson, um ecologista de água doce da Conservation International em Washington, D.C., veio ao nosso encontro assim como David Mitchell da CI-PNG completando o grupo de cientistas.
Como Woodlark não tem serviços aéreos regulares, Dan teve que fretar um charter para chegarmos na ilha, onde o Marlin já nos esperava. Ao chegarmos, uma hora e meia depois, tremi na base ao descobrir que em minha bagagem faltavam o aquário de fotografia e meu puçá. Algum maluco tinha aberto nossa bagagem ao embarcarmos no aeroporto de Alotau. Dan me salvou, oferecendo generosamente um par das suas redes de inseto mais robustas, no entanto a falta de um aquário foi irreparavelmente sentida e se tornou um grande problema.
A primeira coisa a se fazer na ilha era encontrar com anciãos e representantes oficiais num edifício do governo próximo ao aeroporto. Durante o encontro, Wayne notou que uma das janelas, construída com placas de vidro removíveis poderiam bem servir como aquário uma ideia brilhante. Eu rapidamente negociei e adquiri três placas daquelas pela bagatela de cinco kinas. A bordo do Marlin, Wayne usou os seus conhecimentos de vidraceiro e montou um tanque de fotografia. E eu estava de volta a ativa.
Manguezal na Ilha Woodlark onde coletamos, entre outros, o peixe-cachimbo Microphis retzii (abaixo).
Fotos: Gerald Allen.
Na manhã seguinte, desembarcamos no lado oeste da Baía de Suloga e localizamos um pequeno rio lá no meião da floresta. Todd e eu seguimos até uma elevação de aproximadamente 100 metros. Os peixes eram habitantes típicos da ilha 15 espécies, incluindo uma enguia, duas espécies de Kuhlia e 12 gobioides. Stiphodon e Sicyopus eram particularmente bem representados e brilhavam como diamantes naquela forte correnteza. As mais coloridas eram: góbio vermelho-e-dourado (Stiphodon rutilaureus), góbio-néon (S. semoni), góbio-ornado (Sicyopus zosterophorum) e góbio-de-rabo-vermelho (S. dicordipinnis). Carregados de sacos plásticos cheios de góbios vivos, retornamos ao Marlin no final de tarde. Montei o tanque de fotos na mesa de jantar e, com a ajuda de Todd e Wayne, passamos as duas horas seguintes fotografando as coletas do dia.
Stiphodon rutilareus, macho, 30mm, Ilha Goodenough. Foto: Gerald Allen.
Stiphodon semoni, macho, 30mm, Ilha Goodenough. Foto: Gerald Allen.
Sicyopus discordipinnis, macho, 40mm, Ilha Normanby. Foto: Gerald Allen.
Foram 18 horas para atravessarmos de Woodlark a Fergusson incluindo um pernoite no Atol de Egum. Já havíamos coletado nas terras baixas daquele rio, na viagem anterior. Agora, nosso objetivo era subir o mais alto possível. Com a ajuda de David Mitchell, contratamos uns guias excelentes que nos levaram montanha acima numa trilha que piorava muito, à medida que subíamos. Depois de três horas escalando exaustivamente, chegamos a um córrego magnífico que caía íngreme num vale com uma densa floresta, a uma elevação de aproximadamente 600 metros. Todd e eu achamos apenas quatro espécies: o ubíquo Sicyopterus lagocephalus, dois lindos Lentipes, e um Mogurnda. As três últimas eram idênticas às encontradas anteriormente nas Ilhas Goodenough; mas, diferentemente de Goodenough, tanto machos como fêmeas de Lentipes eram abundantes.
Rio Awaetawa, Ilha Fergusson, 800m altitude. Foto: Gerald Allen.
Redigobius leptochilus, fêmea, 30mm, Ilha Fergusson. Foto: Gerald Allen.
Hypseleotris sp., Ilha Tagula. Foto: Gerald Allen.
Normanby foi a última etapa da expedição. O sudeste desta grande ilha tem uma série de vales de rios paralelos que avançam fundo em seu interior. Nosso plano era acessar o rio mais próximo do mar, indo a montante e descendo logo atrás, no vale. No mapa, o plano parecia factível, mas não tínhamos ideia se conseguiríamos realizar tal empreitada. Com a ajuda dos guias locais, Dan, David e eu alcançamos o topo da cordilheira a 400 metros de altura em menos de duas horas. Dali, o resto era só descida até uma chapada no alto do vale cravado às margens do Rio Dibuwa. As duas horas passadas neste rio foram inesquecíveis. Eu priorizei meus trabalhos num lago de uns 30 metros de comprimento por oito a 10 de largura e uns quatro metros de profundidade. Usando máscara e snorkel, fiquei maravilhado com as condições de visibilidade uns 25-30 metros de alcance , o que é absolutamente excepcional para água doce. Ali estava uma excelente comunidade de góbios sicidiíneos, incluindo formas vermelhas e douradas, algumas excepcionalmente grandes. Ambas espécies de Lentipes eram muito bem representadas nas áreas rasas enquanto o Moustache Goby (Sicyopus mystax) era mais comum nas águas mais profundas. Esse lugar lindo certamente fechou com chave de ouro a nossa expedição.
Graças aos dois cruzeiros no Marlin, agora tomamos conhecimento da ictiofauna da Província de Milne Bay.
Catalogamos um total de 55 espécies de 39 generos e 20 famílias, incluindo novas espécies de Lentipes, Mogurnda, Sicyopterus e Stenogobius. Os peixes de Milne Bay fornecem uma parte vital para a ictiofauna da Região Melanesiana, embora reste ainda muito por fazer. Esperemos que as espécies que faltam sejam registradas e catalogadas num futuro bem próximo. Para atingir esta meta, Dan e eu já estamos planejando uma expedição às pouco conhecidas Ilhas Solomon e o Grupo Vanuatu que, sem dúvida, irá revelar mais tesouros da fauna ictiológica.
TRADUÇÃO: OTÁVIO GARCIA DE CARVALHO.
Pôr-do-Sol na Ilha Dobu. Foto: Gerald Allen.
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